terça-feira, 30 de novembro de 2010

APO A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA BRASILEIRA

Professora: Rita Rapold

Disciplina: Fundamentos Filosóficos e   Epistemológicos da  Psicologia
 
Muitos acontecimentos, mostram-se relevantes para se compreender os desenvolvimentos acelerados e ricos das ciências psicológicas no Brasil do século XX, em particular no assim chamado "período universitário" (a partir de 1934) e "profissional" (a partir de 1962) (Pessotti, 1988). 
No ensino filosófico, no âmbito da Faculdade de Direito de São Paulo, parte dos problemas da subjetividade é considerado como propedêutico à teoria e à prática jurídica e estrutura-se ao longo do século XIX, em três fases principais, conforme às orientações doutrinárias dominantes.
A primeira fase, que abrange as primeiras três décadas do século XIX, a psicologia filosófica transmitida nos cursos acadêmicos é inspirada, por um lado, na escola sensualista francesa de Cabanis, Condi D'Holbach e, por outro, no empirismo moderado.
A segunda fase histórica do ensino da psicologia filosófica na Faculdade de Direito é marcada pela influência profunda do ecletismo espiritualista introduzido no Brasil pelo frei Francisco Mont'Alverne e baseado na conceituação dos filósofos franceses V. Cousin (1729-1867), Maine de Biran (1766-1824) e Royer-Collard (1729-1867).. A psicologia é por ele considerada como o fundamento das disciplinas filosóficas, o que justifica o interesse e o espaço dedicado à mesma pelos compêndios inspirados nessa doutrina.
E, aTerceira fase: A psicologia científica, recém-nascida, é colocada em continuidade à tradição mais antiga da psicologia filosófica. O estudo da psique humana é desenvolvido no contexto mais amplo da antropologia, ou seja, do conhecimento do homem na sua realidade complexa de corpo e alma. A finalidade da psicologia é puramente especulativa e os autores frisam sua utilidade para o conhecimento das faculdades intelectuais empregadas na indagação metafísica ou teológica.
 O ensino da Psicologia no Brasil, no início do século XIX,  restringia-se praticamente ao currículo das antigas escolas normais, como disciplina integrante  destinados à formação de docentes para as então chamadas escolas de ensino primário. O ensino, basicamente teórico, não obstante a existência de laboratórios brasileiros de psicologia que teriam surgido no final do século XIX e nos primeiros anos do século XX, não almejava ainda nenhuma prática de cunho profissionalizante.
Em 1934, é criada a Universidade de São Paulo (USP) e, em 1938, cria-se o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), sob a direção de Lourenço Filho, que contribui para a extensão dos servi ços de psicologia aplicada à educação em vários estados do Brasil e em país visinhos. Ainda em 1938, o Instituto de Educação que vinha ministrando cursos de educação superior como unidade complementar da própria USP foi por ela absorvido e passou a constituir a Secção de Pedagogia da Universidade. O Laboratório de Psicologia passou a pertencer à Cátedra de Psicologia Educacional da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP; e a incorporação do Instituto de Educação da Escola Normal do Rio de Janeiro à Universidade do Distrito Federal em 1935, foram fatos que marcam o início de uma nova fase da história da psicologia brasileira: “a era universitária”.
Naquela época, o estudo da Psicologia na universidade ainda estava atrelado, principalmente ao curso de Pedagogia, cujo currículo incluía várias disciplinas de natureza psicológica, ou pelos cursos de Filosofia ou de Ciências Sociais, estes com menor carga de disciplinas psicológicas. Em 1958, por proposta de Annita de Castilho e Marcondes Cabral, que era professora contratada para ensinar a disciplina de Psicologia do Curso de Filosofia da então, FFCL (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras) da USP, começou a funcionar naquela Faculdade o provável  primeiro curso de graduação em Psicologia no Brasil, criado por uma Lei Estadual aprovada em 1957. Com a duração de três anos, esse curso conferia aos que o concluíam, o diploma de Bacharel em Psicologia, mas era de caráter predominantemente teórico e acadêmico e não dava nenhum direito de natureza profissional ao diplomado. A Cátedra de Psicologia Educacional passou a se encarregar do ensino de algumas disciplinas nesse novo curso, como: psicologia da aprendizagem, psicologia do desenvolvimento, psicologia da personalidade. 
Além da área educacional, a aplicação da psicologia foi pioneira no setor industrial. Por volta de 1924, várias atividades foram iniciadas, principalmente aquelas relacionadas à seleção de pessoal para trabalhar nas indústrias. No final da década de 50, aqueles que trabalhavam em Psicologia como professores universitários da disciplina, ou os que aplicavam os conhecimentos desta ciência em instituições como o SENAI, o SENAC, o ISOP no Rio de Janeiro, o OSP em Belo Horizonte e outros institutos, julgaram que era chegado o momento de se regulamentar a profissão de psicólogo no País e de se estabelecer normas para a formação regular desse profissional. Promoveu-se, então, uma verdadeira campanha, junto ao Congresso Nacional, no sentido de se aprovar uma Lei que regulamentasse a profissão e estabelecesse a respectiva formação. Após alguns anos de luta, finalmente, em 27 de agosto de 1962 foi sancionada a Lei nº. 4.119 que atendeu às reivindicações da classe. Em homenagem a essa grande conquista, o dia 27 de agosto passou a ser considerado "dia do psicólogo" no Brasil.
Desde 1955, a autora Mercedes Cunha Chaves de Carvalho, quando entrou na Universidade Federal da Bahia- UFBA, ouvia do seu professor João Ignácio de Mendonça que ministrava aulas no curso de Filosofia da universidade, a necessidade de criar um curso de formação acadêmica na área psicológica. Naquela, época o mestre João Ignácio se preocupava com a formação de um profissional que fizesse a investigação e a práxis na psicologia, para que esses espaços não fossem ocupados por charlatões e profissionais improvisados de outras áreas como já acontecia, mas por profissionais devidamente capacitados.
Nos hospitais psiquiátricos, nas escolas e na administração pública havia a necessidade de se conduzir professores a tornarem-se  Psicometristas. Estimulados por médicos que não tinham tempo para se dedicar ao trabalhado sistemático de avaliação diagnóstica com base nos testes psicológicos, esses médicos já estavam assumindo a função de psicólogo.
Iniciou-se nas universidades brasileiras um esforço dos professores de psicologia das faculdades de filosofia no sentido de buscar suprir esta formação nos cursos de Filosofia e Pedagogia, com a inclusão de disciplinas de várias áreas de estudo da Psicologia, como: Psicologia Geral, Psicologia da Personalidade, Psicologia Social, Psicologia Diferencial e Psicologia Aplicada. Na Bahia, João Ignácio do curso de Filosofia e  Isaías Alves de Almeida do curso de Pedagogia foram os responsáveis pela preparação de profissionais com conhecimentos sistemáticos em disciplinas específicas, que são necessárias à implantação dos Cursos de Graduação em Psicologia.
Constituiu-se, a nível nacional, a partir de 1957, um grupo e um movimento a favor da regulamentação da profissão de psicólogo, ao qual, o professor João Mendonça passou a fazer parte. O primeiro curso de Psicologia do Brasil foi criado na universidade de São Paulo em 1958. Na Bahia, devido a preconceitos, resistências e reservas de mercado, a implementação do curso só ocorreu em 1968, portanto dez anos depois. Essas são as possíveis hipóteses de obstáculos que retardou o objetivo de João Ignácio de criar o curso de Graduação em Psicologia na Universidade Federal da Bahia. Nas décadas de 50 e 60, ainda imperava a hegemonia do ensino médico que por tradição possuía alto nível de status social. Sendo assim, a criação de um curso de Psicologia ameaçava aos profissionais de várias especialidades médicas que detinham os saberes da área de Psicologia, por falta de profissionais específicos.
Uma parceria da cadeira de Psiquiatria com o Instituto de Seleção e Orientação Profissional da Fundação Getúlio Vargas, propiciou em 1955, treinamento em técnica de entrevista e testes projetivos para alunos da área médica da Universidade. Devido a reivindicações do professor João Mendonça e de um grupo de estudantes, não foi possível excluir os alunos de Pedagogia e Filosofia. Esta parceria criou, em 1958 o Instituto de Orientação Vocacional. Devido a esta iniciativa de criação do IDOV, o instituto terminou sendo constituído por alunos recém formados dos cursos de Filosofia e Pedagogia e por alguns profissionais mais experientes da mesma área.
Apesar de o IDOV ter sido criado como órgão suplementar, o Professor João Mendonça idealizava fazer do mesmo, um espaço natural de estágio para os futuros alunos do curso de Psicologia, mas, o IDOV foi extinto antes que lhe fosse possível realizar esse sonho. Em 1961, mudanças ocorridas nas estruturas de poder da Universidade levaram o Professor João Mendonça a solicitar providências para a criação do curso de Psicologia. A viabilização dependia de modificação no regimento Interno da Faculdade de Filosofia. Mesmo assim o projeto foi aprovado. Porém depois de o projeto adormecer por um ano na Reitoria, João Mendonça reiterou a solicitação ao Conselho Departamental, ao tempo em que comunicou a aprovação da Lei Federal 4.119, de 27 de agosto de 1962, que regulamenta a profissão de psicólogo no País.
Trocas de ofícios, cansativas providências e prolongados engavetamentos do processo demonstravam o pouco interesse na autorização do início do curso. Os prenúncios da Reforma Universitária vieram deter a marcha dos acontecimentos, o que possibilitou a criação do mencionado curso, em decorrência do clima propício a novas ações, estabelecido durante o mandato do então Reitor, o Professor Roberto Santos e se começou a pensar no curso de Psicologia com menos preconceito e a regulamentação da profissão do psicólogo foi finalmente efetivada.

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